PONTAL DE CACILHAS: A INDUSTRIA DE PREPARADOS DE PEIXE

sábado, dezembro 10, 2005

A INDUSTRIA DE PREPARADOS DE PEIXE



A riqueza em peixe e sal e o clima ameno, foram factores determinantes para que a partir de meados do século I d.C., se construísse ao longo da costa marítima da Lusitânia e nos estuários dos grandes rios, um conjunto de unidades industriais de preparados de peixe.
Na Região da Costa Azul encontram- se vestígios desta actividade industrial nos estuários do Tejo e do Sado e na Ilha do Pessegueiro.Sobre o processo de fabrico e variedades de produtos fabricados, não existem muitos dados disponíveis.
Sabe-se existirem dois tipos de produtos: as conservas de peixe (salsamenta) e os molhos e condimentos de peixe nas suas diferentes variedades (garum, liquamen e muria).
As conservas eram fabricadas a partir de lombos de espécies como a cavala, a sardinha e o atum. A sua preparação era simples: os lombos do peixe eram colocados nos tanques de maior dimensão, em salmoura, durante várias semanas até ficarem impregnados de sal.
Os molhos ou condimentos, tinham por base vísceras de peixe, ovas, moluscos, ostras e pequenos peixes macerados em muito sal com mistura de ervas aromáticas (caso do tomilho).
Esta mistura era de seguida aquecida e ficava em repouso para acelerar o processo de decomposição (nos tanques pequenos e médios), cerca de dois meses até ter uma consistência colóide ou líquida.
Os investigadores pensam que os produtos que atingiam maior preço no mercado, como o garum de sangue, eram fabricados nos tanques de dimensões mais pequenas.
Os produtos finais eram embalados em ânforas e enviados para os mercados consumidores do Mediterrâneo, onde seriam consumidos como condimento pelos grupos mais abastados.
A obra dedicada à cozinha, da primeira metade do século I d.C., da autoria e Apício, inclui receitas onde se utilizam preparados de peixe, como condimento para temperar pratos de carne e em misturas com vinho.Os complexos industrias dos estuários do Sado e do Tejo, albergavam, para além das fábricas de transformação do pescado, estaleiros de construção naval (para o fabrico e reparação de embarcações de pesca e transporte), oficinas de fabrico de redes e de anzóis, olarias (destinadas ao fabrico de ânforas, de pesos de rede e de louças comuns), fornos para fabricar materiais de construção (cal e os diversos opus), salinas e as explorações agrícolas (para o fornecimento de alimentos frescos).
A actividade de transformação do pescado não funcionava, provavelmente, nos meses de clima mais instável, quando as capturas de peixe diminuíam.
A ocupação de mão de obra nestes períodos devia estar voltada para a tinturaria, através da extracção de corantes de origem marinha como o murex (cor da púrpura).
De aspectos como a organização do trabalho e a actividade empresarial, nada se sabe.
O início da produção ocorreu durante o governo dos imperadores da dinastia dos Júlios Cláudios.Conheceu um período florescente durante a época dos imperadores das dinastias dos Flávios e dos Antoninos.
O fim da dinastia dos Antoninos trouxe a instabilidade política que coincide com uma crise neste sector industrial. Muitas fábricas são abandonadas e outras foram reconvertidas (caso da fábrica da Travessa Frei Gaspar/Posto de Turismo da Costa Azul).
Neste processo de reestruturação, diminuiu a dimensão dos tanques. Ao mesmo tempo, a forma das ânforas de transporte do produto é alterada. Às ânforas compridas, com boca larga, produzidas entre o século III d.C., sucedeu uma ânfora mais pequena com uma boca de diâmetro muito mais reduzido.
As razões desta crise, que conduziu a alterações no produto fabricado, não estão ainda determinadas.

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Região de Turismo da Costa Azul