PONTAL DE CACILHAS: RESTAURANTE AMARRA Ò TEJO, ALMADA

segunda-feira, janeiro 09, 2006

RESTAURANTE AMARRA Ò TEJO, ALMADA





O panorama amarra-nos o olhar ao Tejo e a Lisboa; as propostas do cardápio, de confecção simples e alguma sofisticação, conquistam-nos o paladar. Estamos em Almada, no restaurante Amarra ò Tejo, e ficamos vivamente impressionados com a beleza do lugar e a mestria do chefe de cozinha na preparação dos peixes e dos doces.

Quem diria, em Almada, encontrarmos um restaurante assim, onde a sofisticação e alguma fantasia culinária coexistem com produtos frescos de qualidade irrepreensível, um serviço discreto de alto nível e um panorama fantástico sobre o Tejo e a sua primeira ponte, e Lisboa, que ganha em harmonia e beleza sempre que vista da "outra banda". Ao olharmos para o cardápio, depois de anotarmos a correcção da vestimenta das mesas e respectivas alfaias e a higiene exemplar de todo espaço, casas de banho incluídas, apetece concluir, ao verificarmos que são sete os pratos de peixes e carnes e 12 as sobremesas doces, que estamos num restaurante de "postres", mas isso era se estivéssemos em Espanha. Não nos precipitemos, porém, que as surpresas não acabam aqui.

Passemos à carta de vinhos. Nem nos escassos restaurantes de Portugal com uma estrela Michelin, salvo os casos da Fortaleza do Guincho e do Vila Joya (este tem duas), temos uma carta de vinhos que abre com o mítico Château d"Yquem, de Sauternes, um branco doce natural, como acontece no Amarra ò Tejo. Meia garrafa da colheita de 1999 custa 120 euros, preço de lojas de alguns comerciantes mais gananciosos. Nos restaurantes costuma ser mais caro. O resto da oferta é actualizada. O serviço de vinhos, em que se presta atenção à temperatura, necessidade ou não de decantação e aos copos aconselhados em cada caso, é igualmente de bom nível. Os preços são sensatos. Tal quer dizer que, por exemplo, o Madrigal de 2004, o primeiro branco, e que branco, da Quinta do Monte d"Oiro, de José Bento dos Santos, nos custa 28 euros a garrafa. O vinho está a mais de 22 euros no El Corte Inglés, Club del Gourmet.
Regressemos à ementa, que abre com dois "cocktails", que são bebidas frívolas e urbanas, no caso caipirinha e outra de maracujá e menta (ambas com espuma de coco e ambas a três euros), que estão bem, mas não aquentam nem arrefentam. Segue-se o "couvert" sem história (manteiga, 0,50 euros; e pão (0,35 euros); um "enchido" (lomo ibérico bellota, 12 euros, que não se provou); queijo da Quinta do Anjo, Azeitão, dos pequenos, bem bom (4,25 euros); marisco (gamba cozida, 40 euros o Kg, escolha que não se percebe, atendendo ao que se segue), gamba al ajillo (10 euros), pequenina, durinha, levemente frita em belíssimo azeite e pouco alho; e amêijoa (12 euros, ao natural e à Bulhão Pato), cristianíssima, fresquíssima, magnífica de simplicidade e sabor a à Bulhão Pato pedida. Nas "entradas", o creme de legumes (2 euros) passou-se, bem como o "vegetariano" (6 euros). O mesmo sucedeu com os pimentos à Amarra ò Tejo (5,50 euros) e os cogumelos recheados (4,75 euros). Pediram-se o pastel de queijo de cabra e o folhado de queijo Brie (5 euros cada), estaladiços e saborosos os respectivos recheios vegetarianos, e o polvo à galega (6 euros), cozedura no ponto, tempero canónico de pimentão doce e queimoso, azeite fino e sal grosso, excelente. Havia quatro peixes para a grelha num dos dias e quatro noutro (linguado, sargo, imperador, espadarte), mas nas duas refeições escolheram-se cozinhados que exigem mais do chefe Joaquim Pais e sua equipa. A saber: polvo à lagareiro; filetes de peixe galo; garoupa estaladiça (a 17 euros cada); e asa de raia e pregado gratinado (a 16,50 euros cada). Para esgotar a carta faltou provar o filete de peixe atlântico e o bife de espadarte (a 15 euros cada),. bem como o tornedó na grelha e o bife de lombo (a 17 euros cada), os únicos pratos de carne.
Começo por dizer que não me lembro, em tempos recentes, de ter comido peixe tão fresco e tão bem confeccionado, designadamente no que respeita aos pontos de cozedura e acompanhamentos, como no Amarra ò Tejo. Até o polvo à Lagareiro, com os dois tentáculos braseados, após cozedura que os amaciou, servidos em cruz sobre as batatas esmurradas e a cebola al dente, mergulhadas num azeite doce perfumado com alho, fugia à rotina. Só o queijo derretido do molho do pregado (peixe belíssimo) torna o conjunto um tanto desequilibrado e algo enjoativo. Excelentes os filetes fritos de peixe-galo mais a sua açorda de ovas, a garoupa estaladiça escondida e de suculência protegida pela cobertura de miolo torrado de broa de milho amarelo e a asa de raia, uma receita que foge à muito vista servida com a manteiga queimada. Neste caso é acompanhada de leve molho de azeite e alho, uma cebolada ligeira e batata torneada cozida. Muito bem e muito bom.
As 12 sobremesas doces dariam para outro texto. Digamos que seja a delícia provençal (5,75 euros, hexágono em camadas de biscoito com nozes, geleia de framboesa, mousse de alfazema e frutos confitados, servida com molho de baunilha e frutos silvestres), o gelado de limão (4,24 euros, com vidrado de citrinos), o cannelloni de mousse de chocolate (5 euros, com molho de café verde), o pudim Abade de Priscos (4,50 euros), o pecado de amêndoa (4 euros, com amêndoa e gila) e o mil folhas com recheio de ovos-moles (3,50 euros) provados são todos recomendáveis. Surpreendente, divertido e delicioso é o granizado de chocolate branco (5 euros, com manga, azeitona preta e umas pedrinhas de sal grosso). Não acreditam? Vão ao Amarra ò Tejo e provem.
Quem, de Lisboa, quiser ir para o Amarra ò Tejo, no Jardim do Castelo, na Almada Velha, tem duas formas de o fazer. Ou, de automóvel, pela ponte sobre o Tejo e, chegado a Almada, tomar o caminho da Câmara Municipal, seguir em frente, cortar à esquerda quando encontrar a placa a indicar a esquadra da GNR, e está quase lá. O restaurante fica dentro do jardim, junto ao miradouro, com vista magnífica para o rio, Lisboa e tudo.
Ou, muito melhor, apanhar o barco em Lisboa, no Cais das Colunas, sair no Cais do Ginjal, onde antes se ia pelas caldeiradas, percorrê-lo em direcção a Oeste, apanhar o elevador panorâmico, sair e, em cinco minutos, depois de percorrer um trecho de Almada onde ainda há sinais das quintas e casas solarengas de outros tempos, está-se no Amarra ò Tejo. Primeiro, são as sopas para o olhar; depois, as que nos confortam o corpo. A ementa é pequena, sensatamente quase só de pratos de peixe, mas a qualidade culinária e de serviço, com destaque para os vinhos, é assinalável.

TELEFONE 212730621
LOCAL Almada, Jardim do Castelo
HORARIOS Terça a domingo das 12h30 às 15h00 e das
19h45 às 22h30 (encerra Dom ao jantar).
PREÇO MÉDIO document.write( CEUR('25')) 25,00 €
TRANSPORTES Junto à G.N.R.
OBSERVAÇÕES
Especialidades: filetes de peixe-galo, garoupa estaladiça, polvo à lagareiro.
Aceita cartões. Esplanada.
COZINHA Peixe e Marisco
...
...
Texto David Lopes Ramos (Público)

1 Comments:

Blogger Angelica said...

Este é um restaurante onde a sofisticação e alguma fantasia culinária coexistem com produtos frescos de qualidade irrepreensível, um serviço discreto de alto nível e um panorama fantástico sobre o Tejo. Eu amo os restaurantes em jardins, são extraordinários!

03 outubro, 2012 03:33  

Enviar um comentário

<< Home