PONTAL DE CACILHAS: FONTE DE OLEIROS, AZEITÃO

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

FONTE DE OLEIROS, AZEITÃO





Em 1777 quatro pessoas que pretendiam o afastamento do Juiz de Fora, de Azeitão, movem uma acção contra Agostinho Machado de Faria que ocupava este lugar. Entre as acusações constava que "com ... vexame do povo, mandou fazer segundo xafariz ( o primeiro, foi o dos Pasmados, em Vila Nogueira) junto a aldeia de Oleiros, à qual se segue huma grande estrada de passeyo que mandou alargar ... ". Este chafariz, é hoje conhecido como a Fonte de Oleiros, e faz parte do património construído de Azeitão e do azulejar de Portugal, ao ponto de constar em todos os bons livros sobre azulejaria do século XVIII , que se têm publicado em Portugal .
O chafariz, em si, nada tem de especial . O que o torna importante, são as duas "Figura de Convite" que ornamentam as laterais.
As duas figuras de convite da Fonte de Oleiros parecem ter saído de uma das entradas ou escadarias de um edifício setecentista . A sua função de convite, aqui, convida a beber, e não a entrar como acontece nos Solares e palácios.
Santos Simões refere-se aos azulejos da fonte propondo a sua leitura iconográfica: " Dois porteiros de 12 x 9 azulejos, colocados de cada lado da fonte ... Estão bastante estragados e deverão ser de 1780 " . De facto, estas figuras de convite são da família iconográfica dos porteiros, alabardeiros, criados e militares que se encontram nas escadarias e entradas de Solares ou Palácios .
"(...) As figuras vestem casacas azuis de rebuço, com as pontas viradas e cosidas de modo a que se veja o forro amarelo, condizendo com os paramentos dos punhos. Os calções também são azuis e chegam às altas polainas brancas . Colete, tricorne, «pescocinho» amarelo, completam o conjunto . Note-se a presença do espadim, da alabarda e do bastão, pendurado no segundo botão da casaca, cujo desenho é quasi imperceptível devido ao mau estado dos azulejos .
Se compararmos este traje com os representados no « Mappa dos fardamentos que se fizeram na cidade do Porto, de 1762" , pode ver-se que, de facto é o mesmo fardamento ... ".
Com base neste facto pode-se situar a datação do painel como sendo posterior a 1762, muito provavelmente, ali mandados colocar em 1777, por Machado de Faria. No entanto, há quem seja da opinião de que "(...) a iconografia dos alabardeiros da fonte de Oleiros e a presença de militares, de atitudes corteses e amáveis, convidando a beber na fonte. A estrutura cenográfiac ... e a decoração têm um sentido festivo evidente ; a recepção de D. José em Azeitão, funcionando a fonte como «vestíbulo» de Azeitão ... quando das manobras dos Olhos d'Água "
Como se pode justificar por documentos, o Rei Dom José, quando veio assistir às referidas manobras, deslocou-se de Lisboa para o local das mesmas, que ficava nos arredores de Setúbal, tomando o caminho de ida e regresso, pelo percurso mais directo e, com pernoita no palácio da Bacalhoa. Não é crível que tenha dado a volta por Oleiros, e mesmo que a desse, entrava por Vila Nogueira. Nesse caso, o convite seria para sair ...
O povo de Vila Nogueira, por motivos óbvios, tinha razão para esse último convite !

O busto feminino que encimava o chafariz (foi roubado) era outra incógnita, mas de menor valia. Há quem afirme que era a Maria da Fonte, outros que era o busto da "República" . Para outros, ainda, era um busto vulgar, retirado de uma qualquer quinta dos arredores, onde - realmente - estes adornos proliferavam, colocados sobre pedestais, por entre os renques dos jardins de buxo ...
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Por Joaquim Oliveira
Realizado por Bernardo Costa Ramos
www.azeitao.net

2 Comments:

Blogger Julio Quirino said...

Era giro alguém fazer um levantamento das "nossas" fontes. Qualquer dia desaparecem e nem a memória fica!

26 fevereiro, 2006 23:14  
Blogger Luis Vidal said...

Na realidade existem alguns livros que falam de fontes e chafarizes, recordo-me do Chafarizes de Almada de Alexandre Flores, mas o ideal seria mesmo um completo.
Abraço!

28 fevereiro, 2006 10:00  

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